O Labora estará presente na Semana de Ação Climática de Londres 2025 para uma conversa sobre o papel estratégico da reforma agrária, dos direitos à terra e das políticas públicas territoriais para uma transição ecológica justa, que enfrente a crise climática sem reproduzir desigualdades históricas e sociais.
O “Terra, Trabalho e Clima: Agroecologia e Reforma Agrária para uma Transição Justa” será mediado por Ana Valéria Araújo, diretora executiva do Fundo Brasil de Direitos Humanos, e contará com a participação de Camilo Augusto Santana (Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST), María Leonor Yonda (Via Campesina – Colômbia), Haley St. Dennis (Instituto de Direitos Humanos e Empresas) e Nick Robins (Escola de Economia e Ciência Política de Londres).
O evento está sujeito a lotação, mas se você estiver em Londres e quiser participar, inscreva-se aqui: página para inscrições
Quais as relações entre terra, trabalho e clima?
O objetivo do é destacar como o uso da terra liderado por comunidades e movimentos populares — ancorado em práticas agroecológicas e agroflorestais — pode proteger os biomas, garantir soberania alimentar e gerar meios de vida dignos.
Uma transição justa exige o enfrentamento da desigualdade fundiária e dos modelos agrícolas extrativistas. Pesquisas demonstram que sistemas alimentares baseados na agroecologia e na agrofloresta têm alto potencial para mitigar as mudanças climáticas, conservar a biodiversidade e gerar empregos dignos e sustentáveis (FAO, 2018; IPCC, 2019).
No Brasil, o Observatório do Clima recomendou que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do país incluam explicitamente metas de reforma agrária, restauração ecológica de terras degradadas e fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia como parte da sua estratégia climática (Contribuição do OC às NDCs, 2024). No entanto, tais elementos permanecem sub-representados nos compromissos oficiais do Brasil.
Globalmente, uma análise realizada em 2021 pela Climate & Land Use Alliance (CLUA) constatou que a maioria dos países do Sul Global menciona o uso da terra em termos genéricos em suas NDCs, raramente incorporando abordagens agroecológicas ou reconhecendo o papel dos povos rurais e das práticas tradicionais nas soluções climáticas (CLUA, 2021). Este evento busca contribuir para a mudança desse cenário.
A realização desta sessão durante a London Climate Action Week 2025 reflete uma decisão estratégica para influenciar as negociações climáticas, considerando a proximidade com as sessões da UNFCCC em Bonn e os preparativos para a COP 30 no Brasil. O evento também discutirá como essas soluções podem ser fortalecidas por meio de políticas públicas, organização coletiva e apoio filantrópico.
Recentemente, a diretora executiva do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Ana Valéria Araújo, participou do II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza (FFCN), na mesa “O papel da filantropia como catalisadora da ação climática e do financiamento climático”. Ana destacou a experiência de fundos e fundações independentes em fazer esses recursos chegarem às iniciativas das bases da sociedade brasileira, “de forma que tenhamos interseccionalidade e possamos pensar em justiça climática a partir dos diversos vieses que o assunto exige.”
Reverberações da Semana do Clima de Nova York em 2024
Esta não será a primeira participação do Labora em eventos internacionais sobre Clima. Em setembro de 2024, durante a Semana do Clima em Nova York, o Labora realizou a mesa “Trabalhadores Liderando no Clima: Brasil e Estados Unidos”, que reuniu sindicalistas dos dois países para discutir como os trabalhadores podem atuar de maneira mais intensa nas discussões sobre mudanças climáticas e transição energética. O encontro foi realizado em parceria com Climate Jobs National Resource Center, Climate Jobs Institute, DIEESE e Solidarity Center.
Um dos pontos centrais da discussão foi a importância das negociações coletivas para garantir que a transição energética seja justa. Idealmente, a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia mais limpas deveria ser acompanhada de um plano robusto para a criação de novos empregos com bons salários e condições de trabalho dignas, o que nem sempre acontece.
Fora dos centros urbanos, os trabalhadores rurais e agricultores familiares são severamente afetados pelo calor extremo e pelas mudanças nos padrões de chuva, evidenciando a urgência de considerar as nuances regionais e setoriais na abordagem das mudanças climáticas. Um dos istas convidados pelo Labora durante a Semana do Clima de Londres é Camilo Santana, camponês e filho de assentados da Reforma Agrária na Amazônia brasileira. Camilo compartilhará as experiências dos territórios da Reforma Agrária em Rondônia, organizados pelo MST com apoio do Labora. Essas iniciativas estão diretamente ligadas a uma agenda que conecta a formação e a prática dos trabalhadores rurais com ações nos assentamentos.
Essa abordagem se baseia em um processo de construção da reforma agrária popular, que prioriza a relação entre ser humano e natureza. O objetivo é desenvolver práticas de preservação, recuperação e mitigação que coloquem em debate as emergências climáticas, fomentando ações coletivas que: fortaleçam o diálogo entre campo, floresta e águas para a preservação da vida e da natureza; construam planos de preservação, recuperação e manutenção da floresta viva; integrem o Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis (MST); e realizem a coleta de sementes e a produção de mudas frutíferas e nativas para a preservação da biodiversidade.
Pré-lançamento da Casa do Sul Global
Ao final do debate, a Rede Comuá e a Alianza Socioambiental Fondos del Sur vão anunciar o pré-lançamento da Casa do Sul Global, um espaço de debate e articulação promovido por atores alinhados no ecossistema filantrópico do Sul Global, que acontecerá na COP30 em Belém.
A Rede Comuá e a Alianza Socioambiental Fondos del Sur são duas organizações essenciais que atuam no fortalecimento da filantropia local e da justiça socioambiental. A Rede Comuá, da qual o Fundo Brasil faz parte, reúne fundos temáticos, fundos comunitários e fundações comunitárias, além de organizações de apoio que mobilizam recursos para grupos de base, coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que trabalham com justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário no Brasil. Por sua vez, a Alianza Fondos del Sur é uma iniciativa inovadora que reúne fundos socioambientais independentes, criados e liderados localmente em todo o Sul Global.
Em uma colaboração estratégica, as duas organizações têm trabalhado para fortalecer os fundos locais. Isso é feito não apenas através do desenvolvimento de estratégias para expandir seu impacto, mas também ao demonstrar a já robusta capacidade de financiamento existente no Sul Global, especialmente nas agendas de clima e biodiversidade. Essa união de esforços tem se mostrado crucial para a autonomia e resiliência das comunidades e movimentos sociais que atuam na linha de frente das mudanças climáticas e da defesa dos direitos.
Um dos frutos dessa colaboração, e que será anunciada ao final do debate entre os participantes, é a Casa do Sul Global, um espaço de debate e diálogo, tanto físico quanto virtual, promovido por atores alinhados no ecossistema filantrópico do Sul Global. O objetivo é fomentar discussões sobre fluxos financeiros e dinâmicas de poder, com foco na justiça socioambiental para as comunidades nos territórios.
Durante a COP30 em Belém, a Casa do Sul Global será um espaço físico com programação presencial e virtual, articulado a uma campanha de comunicação e produção de conhecimento, visando amplificar as vozes e as soluções do Sul Global para o mundo.